18 mai, 2020

GDF aposta na construção civil como carro-chefe para a retomada

Após mais de dois meses do primeiro diagnóstico de coronavírus no DF, o Executivo traça planos para reduzir os impactos na economia. A construção civil deve ser o carro-chefe após a crise

Em meio ao impacto cruel da crise provocada pela pandemia da covid-19 na economia local, o Governo do Distrito Federal (GDF) estuda ações em várias frentes para que a capital federal tenha forças para uma retomada pós-coronavírus e possa se estruturar contra as dificuldades que se apresentam. Setores como a construção civil, avalia o Executivo, serão importantes para puxar o movimento de recuperação e a busca por investimentos.

 

 

O secretário de Desenvolvimento Econômico do DF, Ruy Coutinho, explica que existe um planejamento em várias frentes para fortalecer a economia local no pós-pandemia. Na avaliação do secretário, a construção civil é um dos setores que devem puxar o movimento de retomada. “É um segmento que deve se recuperar com razoável velocidade tão logo tudo isso passe. Historicamente, ela tem uma relevância muito grande na matriz econômica do DF e deve ser forte neste momento”, avalia.

 

A criação da Secretaria de Empreendedorismo, anteriormente ligada à pasta comandada por Coutinho, é um movimento importante na avaliação dele. “É uma reivindicação antiga do setor. A nova secretaria vai cuidar do programa Desenvolve-DF e dos pequenos e médios empresários, que precisam tanto de apoio neste momento. Nós ficaremos focamos no desenvolvimento econômico em grande escala”, explica.

 

Coutinho destaca algumas ações que poderão contribuir, como a instalação de um complexo hospitalar gerido por um grupo americano que pode gerar 40 mil empregos e ampliação do Aeroporto de Brasília Juscelino Kubistchek como um HUB e cargas aéreas, além da criação de agência para captação de investimentos. “As privatizações também são importantes. Esse problema do coronavírus atrapalha, mas deve ocorrer ainda neste ano na CEB e depois no Metrô”, acrescentou.

 

A montagem de um complexo industrial de Saúde que produza equipamento de cuidados intensivos também está nos planos. “Começamos a estudar isso agora. Seria voltado para tudo isso que tem faltado.” A tecnologia é outra área que pode ser aliada, na visão de Coutinho. “O Biotic pode colaborar muito nesse esforço,  não apenas na área de Tecnologia da Informação (TI), mas também nas empresas de dados tecnológicos.”

 

A busca por investimentos e financiamentos internacionais também está nos planos. Segundo Coutinho, o GDF tem se aproximado do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o chamado banco do Brics e do Banco Latino-Americano de Desenvolvimento (CAF). “Fora o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento),  que já temos operação de US$ 71 milhões para estrutura das ADES, em franco desenvolvimento.”

 

Coutinho explica que existem vários modelos de recuperação econômica e destaca que o DF provavelmente deve seguir a retomada em U. “Nesse caso, você tem redução muito forte do PIB no início e uma recuperação relativamente lenta depois. O ideal seria em V, em que a retomada também é abrupta, mas não é o que vai acontecer. O pior cenário seria o modelo em W, que é muito instável, de altos e baixos.”

 

Desenvolvimento

 

A Secretaria de Economia (SEEC) informou, por meio de nota oficial, que técnicos da pasta se reúnem diariamente para minimizar os efeitos atuais e futuros gerados pela covid-19. Segundo o texto, o secretário André Clemente dialoga com representantes do setor econômico, como as Federações da Indústria (Fibra) e do Comércio (Fecomércio), a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e outras entidades para avaliar o cenário e definir estratégias.

 

A secretaria frisou que negocia no Congresso Nacional e na Câmara Legislativa do DF (CLDF) recursos para impulsionar a economia da capital. “Um dos principais resultados, com trabalho e empenho de toda bancada federal, é o auxílio econômico da União de R$ 1,38 bilhão, com a aprovação do Projeto de Lei Complementar 39/2020”, ressaltou. Além disso, a pasta explicou que o GDF conseguiu verbas destinadas aos estados e municípios, além da possibilidade de renegociar dívidas.

 

A pasta também conta com a criação do Refis 2020, que tramita na CLDF e poderá gerar economia de impostos da ordem de R$ 823 milhões para as empresas. Outra medida para driblar a crise, é o programa Emprega-DF, criado no ano passado e que foca na geração de emprego e qualificação profissional.

 

De acordo com a secretaria, os setores da construção civil e dos pequenos negócios foram beneficiados durante a crise. A pasta explicou que as obras não foram paralisadas e os pequenos negócios tiveram postergação dos pagamentos de impostos do Simples Nacional, como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e o Imposto Sobre Serviços (ISS). Outra medida de fomento da economia, segundo a SEEC, foi priorizar o pagamento da folha dos servidores e de a quitação de débito com fornecedores, para manter a cadeia produtiva e gerar arrecadação de impostos, como o Predial e Territorial Urbano (IPTU).

 

Construção civil

 

Representantes da construção civil, aposta do GDF na retomada econômica, seguem otimistas. O presidente da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi), Eduardo Aroeira, acredita que o setor tem condições de se recuperar rapidamente, principalmente pelo fato de ter permanecido em funcionamento durante a pandemia. “Desde o início da crise, o governo permitiu o trabalho da construção civil, seguindo os protocolos de segurança. Por isso, não houve grandes prejuízos, como outros segmentos da economia”, ressaltou.

 

De acordo com Eduardo, o BRB deu capital de giro para que as empresas funcionassem com tranquilidade. Entretanto, ele reconhece que houve queda na venda de imóveis. “Houve uma incerteza muito grande por parte dos brasilienses”, ponderou. A saída encontrada pelo setor foi o investimento em plataformas digitais, para manter o interesse da clientela que está em casa ativo.

 

“Apesar das vendas terem caído, principalmente por essa dificuldade de deslocamento, a procura pela internet continuou em níveis maiores do que o período anterior ao da pandemia”, explicou. O presidente da Ademi ainda informou que há 3 mil unidades habitacionais em oferta, mas que, geralmente, o DF costuma disponibilizar 9 mil.

 

“As empresas estão em uma situação confortável. Fazemos uma pesquisa semanal que mostra que 58% dos associados lançarão novos imóveis este ano e 20% avaliam o cenário. Portanto, teremos a mesma quantidade de inaugurações o que antes da crise”, destacou. Eduardo estima que as vendas devem ser retomadas a partir do segundo semestre.

Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do DF (Sinduscon-DF), Dionyzio Klavdianos, apesar do setor ter se mantido em funcionamento, nenhum segmento no país conseguiu permanecer ileso durante a pandemia. “A continuidade do serviço deu força para a gente. Entretanto, é claro que a pandemia está fazendo um estrago. Temos notícias de empresas que desistiram de lançar imóveis. A falta de venda impacta no caixa das empresas. Toda essa questão gera redução de mão de obra, jornada e gera prejuízo”, comentou.

 

Antes da crise gerada pelo coronavírus, Dionyzio revelou que a expectativa para 2020 era positiva. “A nossa esperança é de que essa situação vá se arrefecendo e que a economia tenha uma retomada”, disse. A expectativa do setor, segundo o presidente do sindicato, é de que o segmento volte a se aquecer no último trimestre do ano. As obras públicas, que não foram paralisadas durante o período, também ajudam a manter a atividade das empresas. “O papel da construção civil é importante para garantir o mínimo de atividade econômica. Ela também é importante na geração de emprego”, reforçou.