05 abr, 2021

Não vamos baixar a guarda

Artigo publicado no jornal A Tarde, em 03/04/21

Não vamos baixar a guarda  

Com o agravamento da crise sanitária, no Brasil, quem esperava um contexto menos instável e mais otimista para 2021, se viu, na verdade, diante de um cenário que impõe, mais do que nunca, cuidados, protocolos e restrições para enfrentamento ao coronavírus até a vacinação da população. 

Ainda que os empreendimentos imobiliários continuem se configurando como as melhores oportunidades de negócio e que o segmento vem registrando expansão, os impactos reais da COVID-19 ressaltam, neste 1º trimestre do ano: não podemos baixar a guarda.  

Para manter o mercado imobiliário – hoje um dos principais empregadores e gerador de empregos do país – em um patamar de desenvolvimento e em curva de ascensão, é preciso mais que otimização de processos, desburocratização ou linhas de crédito; na prática, para que os negócios se concretizem, são necessários, antes de tudo, empenho e adaptações para o exercício de responsabilidade social com o capital humano que mantém em funcionamento a construção civil.  

Como avançar com as obras sem que a saúde desses profissionais seja preservada? Enquanto o processo de vacinação ainda precisa ser acelerado, as empresas vêm reforçando o cuidado aos seus colaboradores como prioridade – o que é fundamental.   

A pesquisa recente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (ABRAINC), que acompanha a atuação nos canteiros de obras das 40 maiores empresas da construção, mostra que a preocupação tem sido revertida em iniciativas para evitar o contágio.  

O levantamento revela que 100% das construtoras intensificaram os procedimentos de higiene e adotam horários escalonados de almoço e vestiário para evitar aglomerações. As incorporadoras também proibiram a entrada de funcionários com sintomas ou pertencentes ao grupo de risco nas obras, e aferem a temperatura dos profissionais na entrada e na saída de cada expediente.   

Além disso, 48% das companhias liberaram, para home office, todos os seus colaboradores com 60 anos ou mais. E 100% das empresas fornecem máscaras para o transporte de funcionários nos trajetos casa-trabalho e trabalho-casa, além de máscaras extras nas obras e dos equipamentos obrigatórios exigidos devido ao risco ocupacional (EPI’s). Em 18% das construtoras, há ainda transporte especial para os locais em que não existe disponibilidade e/ou eficiência no transporte público.  

O que o atual cenário da pandemia nos diz é que o construtor não pode pensar o avanço nos projetos e empreendimentos sem uma reorganização das rotinas laborais com medidas elementares de contingenciamento de transmissão do vírus.   

Na área comercial, nos stands e setores administrativos ou gerenciais, o uso de tecnologias e a evolução das plataformas digitais, cada vez mais presentes, se tornaram aliados, possibilitando facilidades aos clientes para esclarecer dúvidas online, fazer orçamentos remotos, simulações, fechar contratos por assinatura digital e até realizar tour virtual dos imóveis.   

Mas o processo de inclusão digital e o atendimento ao público só podem existir a partir de uma base sólida de trabalho fundamentado no canteiro de obras, onde trabalhadores constroem e sustentam os pilares de desenvolvimento do setor. O resultado da migração do ambiente físico para o digital foi eficiente, mas não se limita a isso a conjuntura.  

Continuar as atividades de modo seguro, com rigor nas medidas preventivas ao contágio da doença, é uma forma de responder à crise com responsabilidade. E, nesse sentido, a união de esforços é essencial. Na última semana, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), voltada a medidas de enfrentamento à pandemia, participou de uma reunião com a Secretaria de Desenvolvimento da Indústria, Comércio e Serviços, para discutir ações necessárias, e deve agora analisar propostas que o órgão considera prioridade.  

Na perspectiva de mercado, a tendência de crescimento do setor imobiliário, iniciada no ano passado, permanece em alta. O aumento da taxa básica de juros, a Selic, que estava fixada em baixa histórica de 2% e passou para 2,75%, não será substancial para mudar esse gráfico de forma imediata. Os imóveis seguem se constituindo também como a melhor opção para investimento.  

A expectativa da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) é inclusive que o volume de financiamentos imobiliários, este ano, supere o recorde de 2020 em cerca de 27%, movimentando um montante de R$ 157 bilhões.  

E se as mudanças impulsionadas, frente à crise, possibilitaram o fortalecimento de um mercado que vem mantendo aumentando postos de trabalho e concentrando projeções positivas, elas nos revelam, um ano depois, que não basta emprego e renda; é preciso, antes, desenvolver soluções para garantir a saúde dos profissionais na construção civil. É um compromisso que temos reforçado dia a dia. 

 

Cláudio Cunha      

Presidente da ADEMI-BA (Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia).