14 dez, 2020

"Nós vivemos a pior crise do mercado imobiliário entre 2014 e 2018", diz Cláudio Cunha

O mercado imobiliário da Bahia passou por um período de crise intensa entre os anos de 2014 e 2018.

O mercado imobiliário da Bahia passou por um período de crise intensa entre os anos de 2014 e 2018. Nenhum entretenimento foi lançado em Salvador. Após o longo período de estagnação, o mercado voltou a dar sinais de aquecimento, até chegar 2020 e com ela a pandemia do coronavírus. Mas, para o setor, o período de isolamento social foi importante para aquecer as vendas. Como exemplo disso, o presidente da Ademi-Bahia, Cláudio Cunha, cita o crescimento de 52%, de janeiro a setembro, nas vendas no Litoral Norte. Questionado sobre o impacto da ponte Salvador-Itaparica, o dirigente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário diz que o assunto não pode ser tratado só como uma relação entre as duas cidades, mas sim, como uma via de ligação para o crescimento de todas as cidades do sul, Recôncavo e Oeste. E completa: “O mercado imobiliário não faz especulação, ele desenvolve os locais e a região onde atua”.

Presidente, o mundo parou. Que avaliação você faz da pandemia e o impacto que ela teve sobre o mercado imobiliário

A pandemia paralisou o mundo e todas as atividades. Ali, no mês de março, vivemos uma situação de incerteza, insegurança e desconhecimento ao mesmo tempo. Apesar de ela já ter, em outros países, trazido uma situação que serviu de exemplo para nós, naquele momento paralisou todas as nossas atividades, todas as pessoas procuraram se recolher para evitar o contágio e também para entender tudo aquilo que a gente estava passando. Desde o começo a construção civil procurou continuar com suas atividades, levando sempre segurança para seus funcionários, para seus canteiros de obras, adotando sempre medidas sanitárias, contou com o apoio e compreensão dos órgãos governamentais... E nós continuamos com a atividade da construção civil, o que foi importante para manter o emprego, manter a renda e manter as empresas em funcionamento e com condições de prosseguir com suas atividades. Nesse período, o mercado imobiliário, de janeiro até o mês de maio, procurou muito investir em pesquisa. Entender aquela situação, analisar o que estava acontecendo e, principalmente, ficar atento às mudanças de comportamento. A gente sabe que o mercado imobiliário é ligado ao comportamento humano, ao comportamento das pessoas, e essa pandemia mudou tudo. Ao mesmo tempo que ela mudou os hábitos, mudou os conceitos, mudou nossa forma de trabalhar, mudou a forma de as pessoas estudarem, se relacionarem. Nós passamos também nesse momento a desempenhar as funções domésticas do dia a dia, de cozinhar, de fazer a limpeza da nossa casa. Isso tudo tem um impacto no nosso mercado. Porque nós precisamos estar com os imóveis preparados para atender a essa nova demanda e essa nova mudança de comportamento. Então, a parte de automação, da infraestrutura para dar internet com um bom sinal para a gente desempenhar essas funções, tudo foi colocado numa pesquisa, foi colocado no desenvolvimento de novos projetos para que a gente pudesse atender essa nova demanda e a toda essa mudança.

Mudanças estruturais nas residências começaram a ser notadas. Os olhares nunca se voltaram tanto para o lar. O mercado está atento e vai proporcionar essas mudanças de demanda?

Sim, o mercado começou a investir muito em pesquisa para atender e conhecer o público. Porque todos nós tivemos a própria experiência dentro dos nossos lares, e aí o mercado imobiliário também foi favorecido, porque desde o final de 2019, quando começou o surto lá pela China e pela Europa, a palavra que a gente mais ouviu e a frase que a gente mais ouviu foi “fique em casa”. Então o lar voltou a ter assim uma preponderância na vida das pessoas, voltou a ser o centro da vida. E a valorização da moradia veio de uma forma muito rápida e retomada. Então isso fez com que as pessoas também voltassem o seu olhar para as suas moradias, aquilo que mais ela conseguia desempenhar suas funções dentro do imóvel que ela já possuía, aquilo que ela sentia falta, outras coisas que ela não tinha necessidade e tinha feito esse investimento. E isso tudo movimentou o mercado. Um ponto muito interessante que todos nós estamos vivenciando é o home office e o estudo remoto. Essas duas mudanças principais de comportamento e de desempenho de atividades aceleraram também o mercado imobiliário. Além de as pessoas estarem vivenciando as suas casas, terem a oportunidade também de, através da internet, fazer pesquisa para olhar o que o mercado imobiliário estava oferecendo ou quais oportunidades ele teria que contasse com essa mudança que ele não tinha naquele momento na casa dele. Isso tudo fez com que as pessoas buscassem um novo imóvel. Pessoas que tinham ido trabalhar ou desempenhar suas funções em outras cidades, outros estados e puderam regressar para suas cidades de origem, com custo de vida mais baixo, estar mais próximo de sua família, se sentir mais protegido e acolhido. Então pessoas que também já moravam nas cidades, nosso caso específico aqui em Salvador, e puderam adquirir imóveis no Litoral que tenham essa infraestrutura, para que pudesse ter mais espaço com segurança, que pudesse ter uma área que ela pudesse tomar um sol, que os filhos pudessem brincar. Isso tudo também fez com que o mercado imobiliário se expandisse. Com essa mudança de comportamento, ela por si só já trouxe uma grande movimentação no mercado. Aliado aí as pesquisas a essa mudança de comportamento, a Ademi também, junto com a Prefeitura de Salvador, aí na pessoa do secretário Sérgio Guanabara, fizeram um esforço conjunto para que a gente pudesse também acelerar os novos projetos que atendessem a essa demanda e pudessem ser colocados no mercado. E aí, para você ter uma ideia dos números interessantes que a gente tem, do início da pandemia até agora o mês de outubro, nós já tivemos 38 empreendimentos licenciados que serão 7.544 unidades que serão colocadas aí no mercado ainda esse mês e a partir do início do ano que vem.

A gente percebe aí o crescimento das vendas de segunda residências, de casas e de ambientes que permitam uma maior circulação das pessoas. Essa tendência veio para ficar?

É, a segunda residência é um nicho de mercado que sempre existiu. Mudar o ambiente da nossa rotina do dia a dia aos finais de semana, feriados ou férias, para que a gente possa estar em um novo ambiente, sempre é muito agradável. A gente sempre procura isso. Agora nesse momento, aliado ao período de pandemia, fez com que esse mercado crescesse, evoluísse, e aquelas pessoas que ainda não tinham um imóvel de segunda residência puderam experimentar o quanto é bom ter um imóvel à sua disposição. Então a gente acredita que essa fatia do marcado continuará crescendo. Até tivemos recentemente a aprovação da Lei da Multi-propriedade, que também permite um crescimento muito forte desses imóveis de segunda residência onde as pessoas, várias pessoas podem adquirir um bem e elas usam durante um período pré-determinado. Então isso tudo deverá fazer com que esse mercado continue a crescer e a se desenvolver por todo o Brasil.

O Feirão do Imóvel foi estendido na última sexta-feira com a disponibilização de mais de 4.000 unidades em Salvador e cidades do interior baiano. Como você avalia?

Nós, no mês de junho, iniciamos através dessas pesquisas, uma campanha que nós chamamos “A Casa Que Eu Quero”, que foi justamente o resultado de todo o entendimento dessa pesquisa e da necessidade de que o mercado imobiliário podia levar para as pessoas que buscavam um imóvel. Então, na sequência, a gente tem o nosso salão imobiliário que foi prorrogado, que faz parte do calendário de atividades da Ademi. Esse ano nós estamos na 13ª edição, reunimos aí 18 empresas associadas, são mais de 4.000 produtos de todas as tipologias, de todas as faixas de preços, e que têm e vêm a atender a essa demanda e essa nova mudança de rotina, de comportamento e de situação que a gente está vivendo. Então, devido ao sucesso dos primeiros 30 dias, nós resolvemos prorrogar o salão imobiliário até o dia 7 de janeiro com várias opções, com várias oportunidades comerciais, e onde as pessoas devem aproveitar esse momento já que a gente tem aí a menor taxa de juros da história do nosso país, o que contribui, contribuiu e vem contribuindo para o desenvolvimento do mercado imobiliário. Se a gente parar para pensar, que em 2016 a nossa taxa de juros Selic era de 14,25% ao ano e hoje a gente está com 2% ao ano, com inflação de 3,5, isso mostra que o mercado imobiliário está pujante, podendo crescer e atrair as oportunidades para que essas pessoas realizem a condição da compra do imóvel.

Vivemos hoje um ambiente favorável ao mercado imobiliário. Durante muito tempo o setor sofreu impactos da crise e retraiu. Faltava segurança jurídica. O ambiente hoje é mais propício e promissor?

O mercado imobiliário depende basicamente de segurança jurídica, taxa de juros acessível, oferta de crédito e inflação sob controle. Então nós temos hoje a maioria desses itens todos em prática. Nós temos hoje alguma segurança jurídica, mas ela precisa evoluir. A gente sabe que toda essa mudança de comportamento, todas essas mudanças que nós estamos vivendo sempre impactam no dia a dia dos negócios. Então nós tivemos também recentemente a aprovação da nossa lei de resolução dos contratos, que trouxe um equilíbrio na relação entre e comprador e as empresas incorporadoras. Isso também traz um equilíbrio na relação e faz com que o mercado tenha mais segurança e condições de fazer um lançamento. Como você disse, nós vivemos a pior crise do mercado imobiliário que foi entre 2014 e 2018. Nesse momento realmente o mercado imobiliário encolheu, nós tivemos muito poucos lançamentos ou quase nenhum. Isso também, de uma certa forma, acabou contribuindo para esse momento, porque criou uma demanda reprimida, fez com que as empresas também se reestruturassem e estivessem preparadas para enfrentar esse momento de pandemia agora com mais solidez e continuar com suas atividades. E aí com os resultados de pesquisa, quando as pessoas começaram a constatar, viram a taxa de juros que está sendo ofertada, a disponibilidade de crédito que levou muito mais pessoas a terem acesso ao crédito imobiliário e pudessem comprar o seu imóvel e que tivessem o seu poder de compra ampliado, junto a essa mudança de comportamento tem contribuído para que o mercado imobiliário volte a crescer e se consolide.

A gente percebe uma mudança nos preços dos imóveis no Litoral Norte. Como avalia essa elevação dos preços?

Essa é a lei básica da economia, de oferta e procura. Realmente houve uma procura muito grande por uma segunda residência para que as pessoas pudessem ter mais espaço, ter lazer e ter uma oportunidade de sair de dentro do seu imóvel onde ele vive com sua família, e isso realmente fez com que os preços, à medida que os imóveis fossem sendo comercializados, aumentassem. Para a gente também citar um pouco, nós tivemos um crescimento de janeiro a setembro desse ano de 52% nas vendas no Litoral Norte. Então é um mercado que cresceu muito, que cresceu rápido. Esse movimento também foi muito notado, em Salvador também nós notamos esse movimento, onde tivemos aí também nesse mesmo período um crescimento de 16% nas vendas. E foi um dos temas do nosso Fórum de Sustentabilidade esse ano. É mostrar o mercado imobiliário da forma que ele pode trazer sustentabilidade para todas as cidades e principalmente para Salvador, que conta com um clima excelente, que tem a Baía de Todos os Santos e uma temperatura de água maravilhosa. Então aqui a gente reúne todas as condições para que as pessoas possam viver com qualidade em uma cidade também que foi toda remodelada, temos hoje um Aeroporto renovado, temos um Centro de Convenções excelente, temos novas vias de acesso, temos um metrô funcionando, temos o início do VLT, estamos aí na conclusão da primeira fase do BRT com esses modais todos interligados. Então isso tudo faz com que Salvador esteja pronta e preparada para receber as pessoas do mundo e esse foi o tema que nós tratamos aqui no nosso 11º Fórum de Sustentabilidade no mês agora de dezembro.

Não dá para a gente falar do mercado imobiliário e não falar da expectativa aí sobre o desenvolvimento da Baía de Todos os Santos. Que impactos a ponte Salvador-Itaparica vai trazer para o setor e para esse novo vetor de desenvolvimento do estado?

O impacto da ponte não pode ser tratado só como uma relação Salvador-Itaparica, mas sim como uma via de ligação para o crescimento de todas as cidades, não só essas que estão aqui principalmente no sul, nosso Recôncavo, como também pro oeste, para o escoamento aí através da Fiol, da produção de grãos que nós temos aqui e hoje a gente escoa por outras cidades. Então isso tem um impacto enorme na economia da Bahia, no crescimento da Bahia, e também, aí sim, para o mercado imobiliário com o surgimento de novas áreas de expansão da cidade de Salvador, já que nós somos uma cidade peninsular em que nós hoje só podemos crescer em direção ao norte, que foi aí o crescimento de Salvador em direção, como a gente chama, à Avenida Paralela, Lauro de Freitas, Camaçari, e a gente vê hoje essas cidades também já são cidades onde as pessoas moram e que foi um crescimento e uma extensão do mercado imobiliário daqui da nossa cidade. Então a gente tem só que estruturar essas cidades para que elas possam receber esse crescimento. E aí vem também um momento oportuno que nós tivemos com o marco também da aprovação da lei de saneamento básico, que é fundamental para todos, para controle de saúde, de epidemias, para qualidade de vida, para desenvolvimento de economia, para desenvolvimento de níveis de saúde, e para desenvolvimento do mercado imobiliário. Então a infraestrutura de saneamento, água e esgoto, junto à parte elétrica, é fundamental para que a gente tenha as cidades preparadas para receber o crescimento que ocorrerá com o início das obras da ponte.

Muito se fala sobre a especulação imobiliária que pode acontecer com a chegada da ponte. O mercado voltará suas atenções também para esse outro lado da cidade?

O mercado imobiliário sempre está atento, através de pesquisas e de tendências da sociedade, para aquilo que mais a gente pode contribuir para desenvolver os locais onde atuamos e levar conforto e segurança para as pessoas e qualidade de vida para as pessoas que adquirem o seu imóvel. O mercado imobiliário não faz especulação, ao contrário, ele desenvolve os locais e a região onde ele atua, levando sempre qualidade de vida e infraestrutura para todas as pessoas que vão ocupar esses imóveis nos locais onde serão construídos.

 

Fonte: A Tarde Online